quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A escola como "variante torpe entre celeiro e curral"

É conhecido como Eça de Queirós se refere em Fevereiro de 1872, em Uma Campanha Alegre, às escolas primárias do seu tempo:

Os edifícios (a não ser os legados pelo Conde Ferreira, que ainda quase não funcionam) são na maior parte uma variante torpe entre o celeiro e o curral. Nem espaço, nem asseio, nem arranjo, nem luz, nem ar. Nada torna o estudo tão penoso como a fealdade da aula. […] Sobretudo nas aldeias é quase impossível atrair ao estudo, numa saleta tenebrosa e abafada, crianças inquietas que vêm do vasto ar, da luz alegre dos prados e dos montes. A escola não deve ter a melancolia da cadeia. […] A escola entre nós é uma grilheta do abecedário, escura e suja: as crianças, enfastiadas, repetem a lição, sem vontade, sem inteligência, sem estímulo: o professor domina pela palmatória e põe todo o tédio da sua vida na rotina do seu ensino.
.
Na imagem: Escola do Conde Ferreira, em Vila do Conde, de 1866.

O Conde Ferreira

De facto a história da escola e dos edifícios escolares não é brilhante em Portugal.
Pombal criou as escolas de primeiras letras, mas não as dotou de instalações. O liberalismo criou os liceus, mas também não os dotou de edifícios adequados.

Um benemérito da escola-edifício foi o Conde Ferreira (1782-1866), como fora benemérito da escola-pedagogia João de Deus. Fez construir de seu bolso 120 escolas primárias em Portugal, edifícios adequados à sua função, iluminados e higiénicos.
Foi só no final da monarquia que o estado começou a dotar o país de edifícios escolares para a primária e para o ensino liceal.
Mas foi como se quisesse acabar a fome em fartura: os edifícios então construídos têm jeito apalaçado, em contraste com as condições económicas deficientíssimas das populações eram.
Mas tal fartura chegou a poucos.

A Escola monárquica dos Sininhos, em Vila do Conde. Possuía a ala feminina e a masculina; ao centro ficava a residência do professsor.

No Estado Novo

Foi só o Estado Novo que continuou a tarefa de prover de escola os lugares mais recônditos do país.
Os edifícios, estudados ao pormenor, eram agora diferentes, mas continuavam com certa imponência.

Uma curiosidade: para a primária, aceitava-se então que particulares dotassem as freguesias de escola em troco de um lugar de professor.


Ambas estas escola foram oferecidas por particulares: a de cima, de 1933, é uma "escola mixta", oferecida para que a filha do principal benemétrico aí tivesse colocação; a de baixo, de 1959, foi oferta de um "brasileiro" à sua terra.


Aspecto da magnífica fachada do Liceu Nacional da Póvoa de Varzim (hoje Escola Secundária de Eça de Queirós), de 1951.

A massificação do ensino

Com a massificação do ensino massificou-se também a escola, que deixou de ter o antigo ar distinto e desajustado do meio económico local.
Por outro lado, as exigências pedagógicas modernas tornaram-na um espaço muito mais especializado.
















Pormenor duma escola secundária, em cima, e duma do ensino básico, em baixo; ambas de Vila do Conde.



Monumento à educação em Vila do Conde (de muito discutível concepção).